Câmbio e cenário internacional tiveram efeito negativo no PIB.
RIO — O setor externo mostrou um desempenho diferente no segundo trimestre do ano e passou a contribuir menos para um resultado positivo do PIB. Isso fica evidente na comparação com os três primeiros meses do ano: as importações registram resultado positivo de 4,5%, depois de quatro quedas seguidas, enquanto as exportações, que vinham de um crescimento de 4,3%, registraram alta de apenas 0,4%. Nessa comparação, houve contribuição negativa para o PIB.
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De acordo com a a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio, que apresentou os resultados do PIB ontem, essa mudança reflete a variação cambial do período:
— Como o real teve apreciação no segundo trimestre, as exportações ficam menos competitivas, e as importações tendem a crescer mais.
Na comparação anual, as exportações continuaram em alta, enquanto as importações caíram. No entanto, também em níveis mais baixos, contribuindo menos para um resultado positivo do PIB.
As exportações, que haviam crescido 13% no primeiro trimestre frente ao mesmo período do ano anterior, tiveram alta de apenas 4,3% entre abril e junho. Já as importações, que caíram 21,7% nos primeiros três meses do ano, no segundo trimestre recuaram 10,6%. Os resultados também foram influenciados pela desvalorização cambial, que foi de 14,3% no período. Dentre as exportações, os destaques de crescimento foram veículos, agropecuária, papel e celulose e metalurgia. Nas importações de bens, as maiores quedas ocorreram em siderurgia, indústria automotiva, têxteis, vestuário e calçados, eletrônicos e petróleo.
— É difícil dizer o que explica isso, é possível que seja o câmbio. Mas, por trás do aumento do investimento que apareceu neste PIB, está também o crescimento da importação de bens de capitais, o que ajuda a entender o movimento do setor externo — diz Paulo Levy, economista do Ipea.
Na avaliação da economista do Ibre/FGV Silvia Matos, um crescimento maior das exportações em relação às importações é ruim no contexto econômico brasileiro.
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— Nos períodos de crescimento, o setor externo sempre tem contribuição menor. Quando as exportações superam as importações, como agora, isso reflete a desvalorização do câmbio, por conta de uma economia que estava indo para o buraco. Se essa diferença diminui, então é sinal de que estamos voltando à normalidade. Não temos tradição de exportação de manufaturados. Isso se torna alternativa quando o mercado interno não vai bem — explica.
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima, a contribuição do setor externo para a retomada será tímida, pois o comércio mundial está caindo.
— O Japão está estagnado, a União Europeia está estagnada, os Estados Unidos crescem pouco, e a China desacelera. Não tem como o setor externo ajudar a retomada do crescimento — ressalta Lima.
Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, tem opinião semelhante:
— O motor do crescimento é o mercado interno. O setor externo é importante para equilibrar nossas contas externas, pois a economia brasileira é muito fechada, e o comércio internacional está estagnado.
Fonte: O Globo