Estados Unidos, Argentina e Portugal são destinos preferenciais
A exemplo do que já vinha acontecendo com as grandes companhias nacionais, a crise político-econômica está acelerando também os planos de internacionalização de empresas brasileiras de médio porte, que miram, sobretudo, os Estados Unidos por seu potencial consumidor. As consultas de empresários à Câmara Americana de Comércio (Amcham), a fim de conhecer os trâmites para se instalar nos EUA, cresceram 70% nos últimos 12 meses. Foram quase 8 mil contatos, segundo dados compilados pela Amcham a pedido do GLOBO. Na câmara britânica (Britcham), o salto foi de 30%.
A Altave, de São José dos Campos, que fabrica balões com tecnologia embarcada, usados, principalmente, em projetos de defesa e segurança, é uma dessas empresas que buscam espaço lá fora. Sem perspectiva de estabilização no cenário nacional — a crise, aliás, tem retardado os planos do governo no setor de defesa —, a Altave já começa a se preparar para abrir a primeira subsidiária no exterior.
— Os Estados Unidos têm um mercado de defesa gigantesco, e a única maneira de fornecer a eles é estando lá, porque eles não compram produtos importados (nessa área) — conta Leonardo Nogueira, sócio fundador da Altave.
— Essa crise deixou ainda mais claro que nada para em pé aqui no Brasil. Precisamos nos internacionalizar ou a empresa vai morrer.
SUBSIDIÁRIAS EM MAIS DE UM PAÍS Nogueira e seu sócio, Bruno Avena, analisam ainda a possibilidade de ter uma subsidiária na Bélgica ou em Portugal. A ideia de sair do Brasil ganhou força com a visibilidade que a empresa obteve ao vencer uma licitação para fornecimento de balões para auxiliar na segurança das Olimpíadas no Rio. O contrato com o governo federal somou R$ 24 milhões.
Similaridades culturais
Deborah Vieitas, presidente da Amcham, observa que a turbulência econômica estimula o interesse dos empresários em buscar novos mercados. Prova disso, salienta, é o crescimento recorde no número de consultas na Câmara.
— Os Estados Unidos têm potencial para atrair empresas dos mais diversos setores. É um mercado de 300 milhões de habitantes e com alta renda média, o que traz forte potencial de consumo — diz.
Levantamento da Fundação Dom Cabral (FDC), que mapeia os movimentos de internacionalização das companhias nacionais, confirma que os EUA são mesmo o destino preferido dos brasileiros para os negócios, seguido pela Argentina. Já o país europeu que mais atrai a atenção dos empresários daqui é Portugal. Na África, o mais procurado é Angola.
— Além de similaridades culturais, o empresário busca mercados em que ele vê maior pujança — disse Sherban Leonardo Cretoiu, professor associado da FDC responsável pelo levantamento.
A fabricante de suspensões de bicicletas Pro Shock, que está instalada em São José dos Campos há 23 anos, é outra empresa que já iniciou processo de internacionalização, tão logo notou a gravidade da crise. Desde meados do ano passado, a empresa estabeleceu uma representação na Argentina e, agora, mira a Colômbia.
— No início de 2015, vimos que o cenário era de que precisávamos partir para o processo de internacionalização — resume Breno Horta, sócio da Pro Shock.