Dólar já recua 16,5% no ano e anima importadores, turismo e varejo.
11/07/2016

Segundo economistas, caso cenário se mantenha, alívio no bolso do consumidor deve ser ainda maior.

 

RIO – A recente queda no valor do dólar não provoca efeitos apenas nos mercados de câmbio. Para quem viu a moeda americana superar os R$ 4, a cotação de R$ 3,29 — no ano, a desvalorização acumulada é de 16,5% — é um estímulo para tirar o passaporte da gaveta nas férias. Agências de viagem e importadores estão revendo planos e já se movimentam para aproveitar a cotação mais baixa, seja promovendo destinos internacionais ou aproveitando para repor os estoques. E, segundo economistas, caso o atual cenário se mantenha nos próximos meses, o alívio no bolso do consumidor deve ser ainda maior, já que o dólar influencia desde o preço do pão francês até o de cosméticos.

Quem sente o peso do câmbio nas negociações diárias já respira melhor. É o caso de importadores como o comerciante Helio Casagrande, dono da delicatessen Cosa Nostra, na Zona Sul do Rio. Ele conta que deve elevar o estoque de importados em 25%, de olho na procura de clientes, que aumentou 27%. Mas, por enquanto, nada de alterações nos preços.

— Por enquanto, essa queda no preços ainda não foi repassada para a gente. Mas, mesmo assim, já observamos uma procura maior. A expectativa é que consigamos diminuir o preço dos produtos em 12% a 14% e que a procura cresça ainda mais. Por isso, estamos nos preparando para um aumento no estoque de importados. Além de frios, os produtos mais procurados são azeites, bacalhau, frutas e chocolates — relata Casagrande.

EM JUNHO, COMPRA DE PACOTES SOBE 6%

Segundo Adilson Carvalhal Júnior, presidente da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), o impacto da taxa de câmbio mais favorável deve ser percebido até o Natal. E o repasse da queda de preços para os pontos de venda deve ser rápido, por causa da crise.

— Hoje em dia, até pela competitividade do setor, com várias importadoras, a partir do momento em que você tem o primeiro reflexo do câmbio, a baixa se realiza a médio prazo — avalia Carvalhal.

Já no turismo, o repasse foi praticamente imediato. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Edmar Dull, a compra de pacotes para o exterior aumentou entre 5% e 6% no mês passado, na comparação com o mesmo período do ano anterior. A procura por informações também aumentou cerca de 10% em junho, frente a maio, conta Dull:

— Estamos vindo de um período difícil de companhias superofertadas e baixa procura, portanto, esse número é muito positivo para o turismo. Além da queda do dólar, a retomada de confiança na economia está sendo muito importante e refletindo esses números.

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O alívio do câmbio é bem-vindo, em um momento fraco para o setor. Segundo os dados mais recentes da sondagem de intenção de viagens, elaborada mensalmente pelo Ministério do Turismo e pela Fundação Getulio Vargas, o percentual de brasileiros interessados em viagens ao exterior tem caído. Em maio, das pessoas com intenção de viajar, só 19,7% consideravam destinos internacionais. No mesmo mês do ano passado, esse percentual era de 22% e, em 2014, chegava a 25,7%.

Para Magda Nassar, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), essa queda de demanda já havia impactado os preços em dólar. Agora, a taxa de câmbio passou a puxar mais para baixo os valores dos pacotes:

— Teve preço que caiu mais de 50%. A TAP, por exemplo, lançou uma promoção para a Europa a US$ 450. Há dois anos, essa passagem facilmente custava US$ 1.200.

Esse repasse mais rápido ocorre porque os valores de pacotes internacionais já são cotados na moeda americana, explica Marcelo Melo, diretor da IE Intercâmbio. A agência também tem surfado na onda do câmbio barato. A venda de pacotes para os EUA, carro-chefe da empresa, disparou nas últimas semanas: de 188 contratos na primeira quinzena de junho para 250 na segunda metade do mês.

— A redução do câmbio foi muito significativa. Se considerar um pacote de US$ 3 mil e uma redução de R$ 0,60 na cotação do dólar, estamos falando de uma economia de R$ 1.800 — explica Melo.

EM ALIMENTOS, IMPACTO EM AT[E TRÊS MESES

Com mais gente indo para o exterior, cresce a demanda pela moeda estrangeira. Na DG Câmbio, a procura pelo dólar mais que dobrou na última semana, de acordo com o diretor da corretora, Valdir Junior:

— Depois do Brexit, que impulsionou a queda das moedas estrangeiras frente ao real, e com a queda significativa do dólar, a procura pela divisa americana foi realmente muito grande.

Mesmo quem não está de viagem marcada, nem é adepto de iguarias importadas, também deve sentir alívio no bolso. De acordo com o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes, cerca de um terço dos itens que compõem a cesta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, é impactado de alguma forma pela taxa de câmbio. Segundo o analista, a inflação desse grupo de produtos tem desacelerado. E a tendência deve se manter.

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— O impacto sobre a vida das pessoas é mais indireto. O câmbio afeta o preço de alimentos industrializados, como chocolate e tudo o que leva trigo. O efeito é mais rápido nos não duráveis (como alimentos), em até três meses, porque o estoque gira muito rápido. No caso dos duráveis (como eletrodomésticos), em que o estoque demora mais para caducar, esse intervalo depende do produto, mas fica em torno de 5 a 6 meses — afirma Bentes.

Já Luis Otavio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, avalia que o dólar pode dar uma contribuição importante em um momento de incerteza na economia: aumentar a confiança do consumidor, que tende a ganhar poder de compra.

— O câmbio é uma variável importante nas expectativas, porque a população se sente mais rica com o câmbio mais apreciado. Pode gerar mais consumo lá na frente — explica.

Fonte: O globo

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