Coronavírus acelera digitalização no comércio exterior. O que muda para você?
30/07/2020

A adoção de medidas necessárias de distanciamento social mudou a rotina da maior parte das empresas do Brasil nos últimos meses. No entanto, há um efeito que tem sido pouco debatido e que também tem peso enorme para o andamento do mundo corporativo no país: a pandemia do novo coronavírus forçou um nível de digitalização que ainda estava distante para muitos segmentos e acelerou processos que eram marcados por grande carga burocrática.

Desde fevereiro, quando os primeiros casos de Covid₋19 foram registrados no Brasil, mais de 83 mil pessoas morreram por causa da doença. Além disso, empresas fecharam as portas e o volume de exportação foi afetado drasticamente. O país vendeu menos de US$ 1 bilhão para o exterior em abril, recorde negativo para o período, e ainda está em processo de retomada (US$ 1,2 bilhão comercializado em maio, com alta de 22%).

O que mudou com a digitalização

A principal diferença sentida por quem trabalha com exportação e importação é que os últimos meses serviram para mitigar a necessidade de presença física em todas as etapas de preenchimento de documentação.

Sem a possibilidade dessa interação real em muitas cidades, estados ou países, a solução foi aceitar trocas digitais de documentos, o que deu celeridade a muitos processos.

Qual o tamanho da burocracia que a digitalização resolve

Um estudo realizado em 2018 pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostrou o tamanho do problema causado pela burocracia no comércio exterior. O levantamento apontou que exportações brasileiras são sujeitas a 46 procedimentos diferentes, administrados por 12 órgãos. Nas importações, são 72 ritos de 16 entidades governamentais.

O impacto da burocracia nos números é claro. Ainda de acordo com o estudo, 23% das vendas para o exterior são afetadas pelo excesso de processos, e esse número chega a 59% na importação.

O regramento é tão extenso que os autores da pesquisa admitiram não terem conseguido calcular o impacto real da burocracia sobre a balança comercial do Brasil. Em pelo menos nove casos, o estudo não chegou sequer ao valor relacionado a um procedimento.

A pesquisa ouviu 114 empresas e relatou casos como de uma companhia não identificada, que opera no segmento de alimentos. A diretoria decidiu importar um equipamento e fez todo o processo, mas descobriu quando o material já estava em um porto brasileiro que faltava uma autorização prévia da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Resultado: a máquina ficou retida.

Exportadores já faziam pressão por digitalização

A digitalização era um pleito antigo de empresas que exportam. Estudo realizado em 2014 pela mesma CNI apontou que 88,7% das companhias brasileiras que vendem no exterior estão insatisfeitas com o processo burocrático.

Quando é dividido por segmento, o levantamento é ainda mais significativo. Em áreas como informática e couros, todas as empresas consultadas admitiram insatisfação com o excesso de burocracia para exportar e apontaram que isso prejudicava os negócios.

“No Brasil, a razão social do exportador precisa ser indicada 17 vezes em 17 documentos; o endereço, 16 vezes; a Nomenclatura Comum do Mercosul, dez vezes”, enumerou Carlos Abijaodi, presidente da CNI na época, na divulgação do estudo.

Ainda é cedo para dizer efeito

Um dos principais exemplos de aprimoramento durante a pandemia uma revisão no Siscomex (Sistema de Comércio Exterior), que centraliza documentação de movimentações internacionais. Agora, o aparato dispõe de uma área para envio de documentos que anteriormente eram necessariamente apresentados fisicamente.

A nova funcionalidade abarca, por exemplo, a DI (Declaração de Importação). Antes da pandemia, empresas precisavam se deslocar até a unidade fazendária para obter homologação de um fiscal, processo que agora é online.

Se é claro o quanto a burocracia atravanca negócios de exportação e importação no Brasil, ainda não existe uma clareza de quanto a digitalização de vários processos pode agilizar os negócios.

A única coisa certa é que a digitalização pode ter sido um processo antecipado e acelerado, mas também é um caminho sem volta. Com o sucesso de iniciativas voltadas a acabar com a necessidade de presença física, a tendência é que mais etapas sigam esse caminho nos próximos anos. Lidar com comércio exterior, portanto, também vai demandar de profissionais um conhecimento e uma afeição com o ambiente digital.

Direção,
Marcus Vinicius Tatagiba.

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